quarta-feira, 28 de maio de 2008

"AGORA JÁ SE COMEM FILHOSES TODO O ANO"

Filhoses, Padaria da Srª Patrocinia, Penha Garcia, 2006. 



este foi um dos temas tratados num trabalho de investigação sobre "Doces de Festa" no concelho de Idanha-a-Nova, do qual resultou uma exposição museológica no Polo da Gastronomia de Monsanto. partir de um doce, como por exemplo a filhó, que pauta uma determinada ritualidade no calendário festivo anual e que na actualidade passou a ser enquadrado nos padrões de consumo quotidianos, é motivo capital para questionarmos e avaliarmos  estes novos padrões de consumo e seus contextos nos quotidianos destas populações. como se estruturam na actualidade estes novos modos de comer?  e a ritualidade alimentar associada ao calendário festivo, sofre alterações? quais? o que se perde, o que se ganha? como se organizam socialmente estes alimentos ligados a uma ritualidade alimentar? e quando passam ser consumidos fora dessa ritualidade, como se organizam? quem os faz? quem os vende? etc, etc...

uma etnografia dos doces de festa no concelho de Idanha-a-Nova:

as filhoses, Rosmaninhal, Ti Branca. 2006.
"antigamente a gente amassava-as e deixava-as a finter um bocadinho e depois terevamos uma bola e tendiamos no joelho e depois fritavam-se na sertã ao lume. agora já  se compram nas lojas."

ou seja, todas as sociabilidades geradas em torno deste alimento tendem a perder-se. mas, por outro lado, outras se forjam com novos contornos...


domingo, 25 de maio de 2008

OBJECTOS DE PASTOR

recipiente de plástico onde o pastor guarda alguns alimentos (queijo, chouriço, azeitonas, toucinho, etc); o pastor chama-lhe corna, embora este exemplar não seja elaborado de corno como os mais antigos, mantêm o mesmo formato. objecto pertencente a João Joaquim,Zebreira.


com a invasão de todo o tipo de embalagens de plástico nos consumos domésticos outros materiais foram sendo esquecidos. o objecto que apresento é um exemplo disso mesmo, pois com o fim das vacas de trabalho, findaram também o aproveitamento de cornos para se fazerem as denominadas "cornas" que serviam para transporte dos alimentos durante as jornadas de trabalho. pois, a boa capacidade de isolamento do corno permitia conservar em boas condições alguns alimentos durante as longas jornadas de trabalho. os pastores usavam-nas nas suas longas deslocações através campos, raro era o pastor que não usava cornas onde guardava o conduto. haviam mesmo alguns mais artistas que inclusivé as decoravam com encantadores desenhos e estranhas simbologias, apenas fazendo uso do bico da navalha. embora não seja feito de corno mas sim de plástico, o objecto que apresento ilustra bem a proliferação do plástico nos ambientes domésticos. porém, mantêm o mesmo formato das cornas, apenas se perdem as qualidades isolantes do corno, as formas de o preparar e o gosto que os alimentos adquiriam dentro das ditas cornas. de resto, a funcionalidade continua a mesma.

Ti João, 80 anos, Zebreira. 2006.

"agora uso umas cornas de plástico, daqueles coisos onde vêm o chocolate para a canalha. preparo-o e serve igual. estes são melhores que as marmitas de aluminio. na carrinha onde dormia ao pé da barragem tenho lá cornas antigas. a gente comprava cornos ou davam-nos. muitos destes cornos vinham do Porto, lá é que haviam as vacas com aqueles cornos grandes. agora acabou tudo." 




quinta-feira, 22 de maio de 2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

COLECÇÃO DE CROMOS



encontrei, por mero acaso, esta arcaica colecção cuja interessante temática versa sobre "Homens e Mulheres de diferentes partes do Mundo". como tudo parecia tão singular. será isto o significado de "exotismo"?? 


domingo, 11 de maio de 2008

UM DOS MEUS DIÁRIOS DE CAMPO





aqui vos apresento um dos meus diários de campo. neste extrato está referenciada uma situação em que o informante não autorizou a utilização da máquina fotografica. daí que tive que fazer uso da minha veia artistica. a conversa foi extremamente importante porque foi uma das primeiras vezes que tive a oportunidade de acompanhar na integra e in situ o processo completo de elaboração de um colar de campainha para uma cabra.


(diário de campo nº8, 1 de Junho de 2006)


"terça feira 30 de Maio, 18.30. estou no arraial do J. E. em P.V., o J. está sentado à porta de casa a arranjar as campainhas e as suas respectivas coleiras. é uma boa oportunidade para acompanhar o processo de elaboração de um colar. o J. demonstra alguma falta de paciência para explicar, sente-se incomodado com a máquina fotográfica. diz que está farto de ser "filmado" e que os outros é que ganham o "denhero". já não quer ser mais fotografado. concordo e guardo a máquina, decido também não utilizar o gravador de voz. opto por fazer uso da minha veia artistica, utilizo o desenho. tento acompanhar com a caneta o que vejo. depois diz-me que se quiser posso tirar fotografias aos colares já preparados, mas a ele não. ao mesmo tempo que prepara os materiais peço-lhe para me explicar o que está a fazer, os nomes que dá aos objectos e ferramentas que utiliza, o tipo de madeira, quando colhe, se é o melhor para estes trabalhos. vou apenas ouvindo, prefiro parar de escrever e observar os seus movimentos. vai dando diversas explicações sobre a sua tecnica de elaborar estes colares de campaínhas. explica-me detalhadamente as fases da sua elaboração e o funcionamento do colar na cabra, aproveito para desenhar."